Abralimp alerta: limpeza com vinagre é mito
A Abralimp (Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional) alerta para o uso do vinagre como limpador multiuso e desinfetante. O diretor da Câmara Setorial de Fabricantes de Produtos Químicos, Miguel Sinkunas, afirma que muitas informações de cunho “ecológico” são falsas e podem colocar em risco a saúde das pessoas. Uma delas é o uso do vinagre como limpador e desinfetante. “Naturalmente, ele encontra fácil adesão principalmente entre donas de casa, por sua simplicidade e custo aparentemente baixo e, algumas empresas, vem explorando comercialmente este mito da limpeza com vinagre.”
Sinkunas explica que, para entender o contexto, antes de mais nada, é preciso definir o vinagre. “Trata-se de uma solução de ácido acético em água. No Brasil é normalmente comercializado na concentração de 4%.” O ácido acético, quase sempre, é produzido pela fermentação de vegetais ricos em açúcar e amido como gramíneas, frutas ou grãos. No Brasil é predominantemente obtido pela fermentação do caldo da cana de açúcar, tecnicamente é mais conhecido como vinagre de álcool, uma vez que numa primeira etapa da fermentação se obtém álcool e numa segunda o ácido acético.
Segundo ele, a origem e forma de obtenção do vinagre pode variar enormemente, dai as classificações encontradas no mercado: vinagre de álcool, vinagre de maçã, vinagre de vinho branco, vinagre de vinho tinto. “Sendo um produto com destinação de condimento alimentício, o menos saboroso, mais comum e mais barato, é o de álcool”, informa.
Mas antes de iniciar a comparação com outros produtos de limpeza, Sinkunas diz que é importante entender que o processo de higienização compreende duas etapas básicas que são: limpeza e desinfecção, e entender como cada etapa ajuda evitar que os germes se espalhem:
· A limpeza remove fisicamente as sujeiras e boa parte dos germes usando um agente limpador e água, podendo ser utilizado um meio para esfregar, como: panos, escovas, esponjas, etc.
· A desinfecção complementa a limpeza, matando germes ainda presentes nas superfícies e, em muitos casos, caso tenha ação bacteriostática, impedir sua reprodução por algum tempo.
“As sujidades são os materiais estranhos às superfícies e podem ser divididas em dois grupos: os de origem orgânica, como as gorduras e proteínas; e os de origem inorgânica ou mineral, depósitos de sais insolúveis como os calcáreos, e que podem estar presentes na água.
E por que é importante removê-las?
1) Sujidades orgânicas, são meio de cultura, além de fonte de carbono, podem conter oligoelementos, ou seja, são alimentos para micro-organismos, razão fundamental para seu crescimento e proliferação.
2) Sujidades minerais, não são a principal necessidade dos micro-organismos, entretanto, podem servir como base de ancoragem à formação de colônias de micro-organismos.
Vinagre na limpeza?
“A única ação que podemos apontar é que, em função de seu caráter ácido, em concentrações maiores, o vinagre pode ajudar na remoção dos componentes minerais da sujeira, mas deixando quase intactas as sujidades de origem orgânica, tornando menos efetiva sua ação completa. Em uma operação de limpeza é fundamental atacar toda sujidade orgânica, até para que a mineral também seja totalmente removida”, informa o representante da Abralimp.
Para comprovar, ele recomenda uma pequena e simples experiência prática. “Em duas pequenas tigelas, aplicar porções iguais de material gorduroso (como manteiga ou margarina) e lambuzá-lo no fundo das tigelas. Fazer então a comparação entre a limpeza que consegue usando um simples detergente e a receita caseira de vinagre. “O grande volume de gordura tornará a eficiência bastante visível em pouquíssimo tempo. As pessoas poderão concluir que quando se limpam superfícies com vinagre sempre restará, pelo menos, uma fina camada invisível de material orgânico transparente, que poderá dar um certo brilho, até agradável visualmente, mas que fornece um excelente meio para desenvolvimento de micro-organismos”.
O especialista explica que a desinfecção é a complementação da limpeza que pode garantir eliminação de micro-organismos. “Infelizmente, não é vista a olho nu e nem com facilidade, somente pode ser avaliada em testes de laboratórios especializados, custosos e demorados”. E aí vem a pergunta: como fazer então para comparar a eficiência do vinagre como desinfetante em relação aos encontrados no mercado?
Testes comprovam que vinagre não funciona
Todo produto desinfetante encontrado à venda no mercado deve estar registrado na Anvisa. Durante o processo o fabricante deve comprovar a ação do produto sobre diversas cepas de bactérias e isto torna o produto confiável ao consumidor aos fins a que se destina.
“O vinagre, ou ácido acético, não faz parte do rol de princípios ativos dos desinfetantes registrados na Anvisa. Existem testes mundiais que já avaliaram o vinagre como desinfetante e a conclusão é que este produto não é adequado ou seguro. O vinagre apresenta, inclusive, graves riscos, pois cepas de bactérias, como os staphylococcus, que podem ser muito perigosas à saúde, passam incólumes ou são pouco afetados.”
Sinkunas cita Carlos Henrique Christo, mestre em microbiologia. “Ele comenta que o vinagre pode ser utilizado como conservante em alimentos, como se faz secularmente, entretanto, basta pequena variação no pH para que o próprio vinagre seja consumido como fonte de carbono por bactérias”, diz.
Acrescenta que frascos de vinagre largados abertos sem refrigeração tornam-se turvos, em razão da proliferação de bactérias consumindo o próprio vinagre. “Podemos encontrar testes em que o vinagre possa ser efetivo, entretanto, somente em altíssima concentração e por longo período de exposição, como exemplo o trabalho de pesquisadores americanos do Albert Einstein College of Medicine, que concluiu que o vinagre teve eficiência sobre a Mycobacterium tuberculosis, a bactéria que causa a tuberculose, após exposição de 30 min a uma solução acética a 6%.”
Até mesmo em seu uso mais comum, na desinfecção de verduras, estudos comprovam que o vinagre se mostra pouco eficiente. “O vinagre de álcool comum necessita de tempo de contato de 15 min e não pode ser diluído mais do que em uma parte de água (meio a meio com água) para que haja garantia nos resultados, sem contar que este procedimento, com maior garantia de desinfecção, leva a uma degradação da própria verdura.”
O diretor da Abralimp vai além. “Ao lado do risco que se corre acreditando que o ambiente e os objetos são limpos e desinfetados, a ineficácia do vinagre junto à população microbiana, sem sua eliminação, leva ao altíssimo risco da formação de biofilme, que é a associação de organismos microscópicos, que constitui uma forma de proteção ao seu desenvolvimento, permitindo sua sobrevivência em ambientes hostis. Bastante grave, esta situação pode abrigar e proteger bactérias oportunistas ou patogênicas, como legionelas, pseudomonas e escherichia coli.
“Além do risco à saúde, a presença de bactérias anaeróbicas pode causar a corrosão nas superfícies, trazendo prejuízos patrimoniais. Uma vez que um biofilme esteja formado, sua remoção será difícil até para os melhores produtos de uso convencional”, conclui.