Luiz Antonio

Nos últimos 50 anos, a composição dos resíduos que geramos mudou completamente. Nossos avós recebiam o leite em casa diariamente em vidros; hoje compramos em tetrapak ou em saquinhos de plástico. As compras, antes feitas com sacolas de pano ou carrinhos, agora são levadas em sacolas plásticas descartáveis. Tudo em nome da praticidade, higiene, rapidez, conforto.

Os shopping centers são expoentes dessa revolução tecnológica que traz uma série de comodidades para o dia-a-dia, desde um ambiente todo climatizado até os altos padrões de higiene e consumo. Mas essa revolução, ao mesmo tempo em que gera bem-estar e conforto dentro do shopping, cria previsões sinistras para o futuro devido ao excessivo consumo de recursos naturais que, após brevíssima vida útil, viram lixo. Uma fração de petróleo que é extraída, refinada, processada, transformada em plástico, soprada para uma fôrma de copo e transportada até o McDonald's do Shopping Iguatemi, é cheia uma vez com Coca-Cola, esvaziada e jogada no lixo. Mesmo que seja reciclado, esse copo gerou um desperdício enorme de energia!

Para uma gestão de resíduos em shopping centers é preciso ter em mente que o conforto precisa ser balanceado com sustentabilidade. Assim, a primeira premissa de uma boa gestão é a redução da geração. Não gerar o resíduo, usar recursos duráveis ao invés de descartáveis.  O segundo princípio, também conhecido, é a reutilização de recursos. As faixas de propaganda, por exemplo, podem ser reimpressas ao invés de descartadas.
O terceiro ponto – o mais popular – é a reciclagem, em que é preciso separar. E para separar é necessária uma infra-estrutura que torne a segregação amigável, ou seja, ter cestas de lixo diferenciadas, com cores facilmente identificáveis e ao alcance do visitante. Também os sacos de lixo devem acompanhar as cores das latas de lixo para que a identificação do tipo de resíduo continue fácil após ser retirado da lata.

Mas não basta separar os resíduos. Há aqueles que, se estiverem sujos, não são recicláveis, vindo a se tornar um volume em um lixão qualquer. Por isso, também a limpeza dos resíduos é importante, o que pode ser realizado principalmente nas lojas, uma vez que será difícil, beirando o impossível, convencer clientes de limparem seu lixo antes de jogar na cesta (a cesta certa já é difícil de acertar...).

O trabalho com a conscientização é o mais imprescindível de todos, por que o estilo de vida que um shopping passa aos seus visitantes é o que é reproduzido em casa. Se um shopping center tiver bons exemplos de comportamento sustentável, sem perder conforto, certamente muitos visitantes aplicarão esses costumes também no seu dia-a-dia.

A adequada gestão de resíduos, como qualquer outro produto, precisa ser vendida em uma "embalagem" amigável, e o estilo de vida do shopping center – facilidade, conforto e diversão – é uma das melhores. A separação do lixo no shopping tem esse poder de replicação nos lares, sendo uma pedra fundamental para um estilo de vida saudável.

Assim, para fazer uma gestão exemplar de resíduos em um shopping center se deve observar a redução da geração, a substituição de materiais por menos impactantes, a separação correta, a reciclagem e a educação ambiental!

Luiz Antônio Borges
Germano da Silva
é diretor da Luftech Soluções Ambientais, auditor Ambiental e Engenheiro Metalúrgico especialista em Gestão Ambiental [email protected]