Darwinismo Empresarial
A perpetuação da espécie é uma preocupação instintiva a todos os seres vivos, porém dentro de cada casta, os indivíduos que propagarão descendentes por mais gerações serão os mais fortes e adaptados ao ambiente em que vivem, o que já fora constatado pelo cientista inglês Charles Darwin (1809 – 1882). Porém, mesmo antes das teorias darwinianas, o ser humano já havia criado normas sociais que permi- tiam a cada indivíduo a possibilidade de perpetuar descendentes, como a monogamia e o casamento, seja ele formal ou uma união estável. Sendo assim, a questão sobre a herança deixou de ser apenas genética e passou a ser patrimonial. Hoje a questão não é mais “deixarei descendentes?”, mas sim “o que deixarei aos meus descendentes?”. Isso passa por dois pontos principais: controle financeiro e sucessão familiar. Como diria outro britânico famoso, por um legado muito menos nobre, vamos por partes. Uma das preocupações de um empresário, principalmente quando falamos de empresas familiares, é de que sua companhia torne-se forte e sólida para que seus filhos possam herdar um patrimônio que os permita viver bem. Isso passa por alguns pontos como aumento da venda de seus serviços e produtos e conseqüente sucesso financeiro. Uma pesquisa do Sebrae-SP apontou que 28% (a maioria) dos micro e pequenos empresários do Estado acreditam que a oferta de crédito e os juros menores são os principais responsáveis pelo crescimento nas vendas e conseqüente sucesso financeiro. Outros 17% apontam os impostos mais baixos como principal item para se atingir isso, e 9% como fundamental o crescimento econômico. Quem pensa que somente por meio de linhas de crédito será possível aumentar estoques e vender mais pode ter uma desagradável surpresa ao emprestar mais do que precisa e comprometer muito do orçamento da empresa no pagamento das parcelas da linha de crédito. A falta de controle sobre as contas pode fazer com que a corporação venda seus produtos e serviços a preços que não ofereçam a lucratividade necessária. As opções de linhas de crédito têm aumentado ano a ano, porém isso não fez com que o percentual de corporações que fecham as portas antes do quinto ano de existência tenha diminuído dos atuais 60%. O segundo item apontado, a interferência da carga tributária no processo, realmente é muito pertinente, uma vez que a mesma é bastante violenta no País. Entretanto, diversos empresários não têm controle dos impostos pagos, e isso faz com que haja duas maneiras de se perder dinheiro. Primeiro pelo não pagamento em dia dos tributos – seja por desconhecimento ou desorganização das contas, fazendo com que o Estado depois os cobre com juros e correção; outra é o pagamento em duplicidade de impostos, o que muitas vezes acontece pela falta de um simples lançamento da conta paga.
Com relação ao crescimento econômico, há sim um aumento de vendas no varejo e na indústria em geral nessas épocas, entretanto eles são aproveitados por empresas que possuem um bom controle do fluxo de caixa, que as permita tomar decisões rápidas e ter capital para aumentar estoques ou pessoal quando necessário e, conseqüentemente vender mais. Companhias sem isso podem inclusive perder mercado, nesses períodos, para as que têm. O primeiro passo para aumentar as vendas e fazer a empresa prosperar e, mais do que isso, permitir que ela sobreviva por mais de cinco anos, é dispor de ferramentas que permitam ao empresário ter total controle do fluxo de caixa de sua empresa. Agindo dessa maneira, o gestor já estará com meio caminho andado para entregar uma boa corporação, no momento certo, aos seus herdeiros. O segundo ponto é preparar a empresa e os filhos para o momento da sucessão. As empresas familiares padecem de um problema que é a centralização de tudo no comandante dos negócios. Isso faz com que, se por ventura for necessário um dos herdeiros ou todos eles necessitem assumir o comando da empresa repentinamente, estes não tenham informações e nem a formação necessária para gerir a mesma. Assim, a falta de preparo e de normas e procedimentos pode levar a empresa a fechar suas portas. Uma companhia sem procedimentos acaba, nessa hora, não sendo uma corporação própria, mas sim algo tocado por uma só pessoa. Outro ponto que pode levar a empresa à bancarrota é a disputa interna entre seus herdeiros, principalmente se a companhia tiver sócios. Dessa maneira, fica visível como a sucessão familiar se faz necessária para que se propague por gerações, do contrário não ultrapassará a segunda. O preparo para uma sucessão sem traumas se faz bem antes do fato se consumar e deve se levar em conta uma série de fatores, expostos a seguir:
Estatuto Social
Tudo nasce na constituição de uma empresa e na definição de seu Estatuto. É importante nomear no Contrato Social quais os sucessores – herdeiros, administradores, diretores, entre outros – que estiverem tecnicamente e profissionalmente aptos a exercer a gerência e cargos de comando da companhia, visando eliminar divergências, na hipótese de saída abrupta dos atuais dirigentes (seja por motivo voluntário ou por força maior), ou então, indicando um mediador decisório.
Profissionalização e investimento em empresa especializada
Outro aspecto importante é a questão da profissionalização da empresa, elegendo “profissionais” para ocupar cargos estratégicos e/ou de confiança. Faz-se necessário neste momento um investimento importante, que é a busca, no mercado, de uma consultoria especializada em gestão sucessória, pois é comum empresas antigas que passam de pai para filho se depararem com situações para as quais não estão preparadas. É nesse momento que a assessoria de profissional especializado, como o advogado do ramo cível ou societário, faz a diferença.
Proteção do patrimônio
É preciso enxergar mais adiante. Para proteger o patrimônio familiar é possível se criar uma holding para gerir os negócios. Neste momento, o dono dos negócios será a holding, onde poderá ser definida a participação no Capital Social de cada sucessor familiar e sua função, no caso de saída dos atuais dirigentes.
Centralização de informações: O “Pecado Capital” do dirigente empresarial
O pior dos pecados que o empresário pode cometer é concentrar todo o controle ou todas as informações vitais ao negócio em si próprio ou numa só pessoa. O que deve ser feito é uma descentralização das informações ou de conhecimentos técnicos da companhia, para que, na ausência dessas pessoas, o negócio possa continuar fluindo e possa ter continuidade, sem comprometer o seu andamento e sem colocá-lo em risco. O aconselhável é que empresas que estão iniciando suas atividades procurem consultores contábeis e jurídicos (com esses quatro tópicos acima citados em mente) e tomem as precauções para que já na abertura da empresa a sua longevidade esteja garantida. Para as corporações já existentes é sugerido que procurem os profissionais que as atendem e peçam orientações para que se façam as mudanças necessárias a essas precauções. Assim será garantido que a perpetuação da companhia se dê por muitas gerações, seja ela de qualquer espécie, ou melhor, segmento.
Reinaldo Domingos é contabilista, pós-graduado em Análise de Sistemas e diretor-executivo do portal Financeiro24Horas.com – [email protected]
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